DES(ENCOBRINDO) OS(AS) OUTROS(AS) A PARTIR DA PEDAGOGIA DECOLONIAL: IMPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS)
Ivan De Matos E Silva Junior  1, 2, *@  , Rosiléia De Almeida  1, 3, *@  , Leonardo Rangel Dos Reis  1, 2, *@  
1 : Interfaces: cultura, ciência e ambiente na educação crítica
2 : Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia - IFBA
3 : Universidade federal da Bahia  (UFBA)
* : Autor correspondiente

No campo da formação de professores(as), constata-se a instauração do modelo ocidental, curricularmente eurocêntrico, pautado em conceitos, ideias e categorias do fazer-saber colonial, que abrigam projetos de um mundo universal à moda europeia e norte-americana. A retórica do conhecimento enquanto empreendimento alcançado apenas pela ciência ocidental ajuda na hegemonia histórica desse tipo de saber que se instaurou como monocultura do saber (SHIVA, 2003), operando o processo de encobrimento dos(as) outros(as) (DUSSEL, 1993).

Reconhecidamente identificada por currículos inspirados em modelos externos e, portanto, adversos aos contextos locais, propostas curriculares que instauram a ecologia de fazeres-saberes se fazem necessárias, no intuito de visibilizar outras pedagogias que visibilizem outros sujeitos (ARROYO, 2014). Assim, no âmbito das instituições de ensino superior, um projeto de decolonialidade do saber (WALSH, 2017) é fundamentalmente uma proposta de decolonialidade curricular, que não envolva negação de outros modos de vida. Desse modo, diante da assunção de uma perspectiva teórica amparada no fazer-saber decolonial e sua interface com a formação de professores(as), busca-se pontos de convergência entre a decolonialidade e a pedagogia freireana (FREIRE, 1983).

Ambas as perspectivas buscam ampliar os espaços-tempos de emancipação, insurgência e transgressão (HOOKS, 2013) na/da educação, tornando visíveis outros aportes educativos que não são comumente explicitados em sala de aula, tampouco amparados na perspectiva que dialoga com outras pedagogias, que contribuem para a emergência de outros sujeitos historicamente marginalizados (ARROYO, 2014).

A metodologia que embasa o presente trabalho é inspirada em uma experiência de pesquisa-formação, no contexto de uma pesquisa doutoral intitulada “O pensamento decolonial na Biogeografia e suas contribuições na formação docente”. Nesse tipo de trabalho, a experiência de investigação é qualificada como pesquisa-formação a partir do desenvolvimento de uma metodologia minúscula (RIBEIRO; GUEDES, 2019). Tais metodologias não estão preocupadas com receitas prontas, por serem porosas, abertas e capazes de criar condições para que o(a) outro(a), muitas vezes colocado(a)s em condições de subalternidade (SPIVAK, 2010), possa se expressar.

A pesquisa assume o princípio educativo como parte do seu modus operandi, configurando-se como movimento de superação de epistemologias provenientes das ciências hegemônicas, de cariz ocidental (SANTOS, 2019). Portanto, chegou-se à conclusão que um dos pontos que une a decolonialidade à perspectiva freireana traduz-se na ruptura da hierarquia entre os conhecimentos, sobretudo os diversos fazeres-saberes presentes na educação e nos cotidianos. 

Referências:

ARROYO, Miguel Gonzáles. Outros Sujeitos, Outras Pedagogias. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2014.

DUSSEL, Enrique. 1492: o encobrimento do outro: a origem do mito da modernidade. Tradução por Jaime A. Clasen. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. 

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 8. ed. Tradução por Rosisca Darcy de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. 

GUEDES, Adrianne Ogêda; RIBEIRO, Tiago. Revelar-se ou ocultar- se? Apontamentos para pensar a pesquisa educativa. In: GUEDES, Adrianne Ogêda; RIBEIRO, Tiago (Orgs.). Pesquisa, alteridade e experiência: metodologias minúsculas. Rio de Janeiro: Ayvu, 2019. p. 19-46.

HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. Tradução por Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013. 

SANTOS, Boaventura de Sousa. O fim do império cognitivo: a afirmação das epistemologias do Sul. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.

SHIVA, Vandana. Monoculturas da mente: perspectivas da biodiversidade e da biotecnologia. Tradução por: Dinah de Abreu Azevedo. São Paulo: Gaia, 2003. 

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o Subalterno Falar? Tradução por: Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa e André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. 

WALSH, Catherine. Lo pedagógico y lo decolonial: entretejiendo caminhos. In:WALSH, Catherine (Org.). Pedagogías decoloniales: Prácticas insurgentes de resistir, (re)existir y (re)vivir. Tomo I. Quito-Ecuador: Ediciones Abya-Yala, 2017.



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