A intenção desta proposta é discutir as conclusões preliminares de uma pesquisa de doutorado que se propõe a investigar trajetórias de mulheres indígenas nas universidades brasileiras a partir da entrada delas nos cursos de pós-graduação, refletindo sobre os dilemas de produzir conhecimento enquanto mulher indígena e acadêmica com o objetivo principal de compreender como é ser mulher indígena no contexto da pós-graduação, possuindo uma voz insurgente e uma corporalidade resistente diante da consciência científica eurocentrada reproduzida nas Universidades brasileiras. As mulheres indígenas estão cada vez mais presentes e ativas como estudantes e pesquisadoras nos espaços acadêmicos, consolidando a Universidade em um território de disputa epistemológica e o diploma uma ferramenta de luta para os povos originários. No entanto, é necessário investigar em quais condições de permanência essas mulheres se encontram nos programas de mestrado e doutorado e quais os desafios enfrentados para a conclusão de seus cursos e a continuidade de seus estudos.
Para tanto, foram realizadas entrevistas em profundidade e observações do cotidiano de mulheres indígenas nos programas de pós-graduação das principais instituições de ensino superior do Brasil - as Universidades Federais - convivendo com suas práticas e atividades, entendendo suas principais inquietações, emoções, vivências, interesses, necessidades, sonhos e maneiras de r-existir frente às dificuldades enfrentadas nos cursos de mestrado e doutorado e na docência, assim como suas conquistas e vitórias. Concomitante à pesquisa de campo, a pesquisadora se debruçou em uma leitura aprofundada da produção intelectual dessas mulheres, pós-graduandas e docentes, buscando mapear as temáticas das pesquisas empreendidas, suas principais preocupações teóricas e contribuições conceituais, em especial para o campo das ciências humanas, a partir de suas posições enquanto epistemólogas nativas. Na apresentação, refletirei criticamente em torno da construção dos usos políticos do espaço acadêmico, das categorias chaves de pensamento social e seus empregos, assim como sobre o fenômeno recente da presença indígena na universidade brasileira e, de maneira mais incisiva, da presença da mulher indígena na pós-graduação. Ademais, entendo que as trajetórias das mulheres indígenas acadêmicas iluminam a compreensão de como se configuram as possíveis relações sociais interseccionadas por gênero e etnia/raça no contexto acadêmico desde uma perspectiva feminista e decolonial. A potência deste trabalho está em construir mais um espaço para as mulheres indígenas falarem, como um alto-falante que reverbera a luta dessas mulheres, e não para dar voz a essas mulheres que falam por si, mas incluir demandas concretas das indígenas que estão na academia.
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