Este trabalho é um ensaio teórico que propõe reflexões sobre o ensino e a educação em mídia digital. Entendemos que as tecnologias da informação e comunicação (TIC) trazem avanços para a educação, possibilitando inúmeros recursos como ambientes de aprendizagem, teleconferências, interações em rede, sincrônicas ou assincrônicas, fontes de consulta, materiais audiovisuais, robótica, jogos etc. No entanto, seus suportes são extremamente dependentes da indústria capitalista, do mercado e do consumo. E, assim, dos ditames do progresso e do crescimento dos países ricos. Tal dependência fortalece o pequeno número de empresas e corporações que se devoram umas às outras para explorar a maior parte da população e acumular capital econômico. Os instrumentos informáticos possuem um custo alto, manutenção cara e durabilidade baixa para a maior parte da população. Tornam-se rapidamente obsoletos, assim como a linguagem da computação. No fluxo espontâneo às pessoas com acesso tem predominado a velocidade, a superficialidade e a aparência. Cria-se uma cultura comportamental do fastio e da falta de atenção. Do prazer fugaz e sem responsabilidade. No desdobramento desta dependência perguntamos pelos riscos aos usuários, especialmente jovens, em relação à aprendizagem escolar e ao desenvolvimento humano pleno. Ao considerar parte desta situação como inevitável, o que é possível fazer para superar a adaptação e reprodução? Como dialogar com a tendência da cibernética ao individualismo e competição? E como agir diante das opiniões ligadas à vaidade ou falsidade? Para este enfrentamento, pensamos em fortalecer a educação popular e enfatizar sua componente descolonial. Nos embasa as obras de Freire (2003, 2004, 2010), na educação popular, junto a Santos (2003, 2006, 2007) no desenvolvimento de uma epistemologia descolonial, contra o capitalismo, patriarcado e o racismo. E convergimos com Moran (2013) e Kensky (2014), na intenção de compreender a cultura das TIC e propor alternativas pedagógicas. Ao pensarmos sobre o contexto contemporâneo e nas mudanças vertiginosas que ocorrem nestes tempos e em todos os espaços, poderíamos entender que perspectivas iniciadas nos anos 60 ou 70, como a educação popular, não seriam mais úteis. Discordamos. No ethos de descartar e se dirigir ao caos, pouco valorizamos a durabilidade e a segurança. Propomos insistir na educação popular e na sua grande qualidade, a abertura crítica para o devir social e para a democratização da ciência. Nesta persistência, é provável que se ganhe em consistência, difusão e abrangência. Sem aderir cegamente ao padrão imposto, buscamos configurar o ensino para transformações substanciais e duradouras na grande população.
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