O cenário museológico vem se renovando desde o surgimento do movimento da Nova Museologia, no último quartel do século XX. Busca-se uma renovação teórico-metodológica e prática no âmbito das questões acerca do patrimônio, da memória e das identidades culturais. Quer-se a construção de museus contextualizados e comprometidos com as realidades em que se inserem. Este momento marca o avanço nos museus da perspectiva educativa, integrando-a como sua função social primeira. Destarte, confere à ação museológica um novo sentido existencial, em que seus profissionais passam a se reconhecerem enquanto agentes de promoção educacional e sócio-cultural, para além das tradicionais funções (preservação, documentação, etc.).
Esta perspectiva do papel educativo dos museus, transcendendo os departamentos educativos, a mediação e os materiais didáticos, é marcada pela aproximação das reflexões do campo museal com o pensamento de Paulo Freire. Isto ocorrerá através da transformação conceitual do homem-objeto em homem-sujeito, assinalada por Hugues de Varine, em 1979, quando na direção do International Council of Museums (ICOM). Segundo esta reflexão, “o museu como finalidade, o museu como objetivo, é a universidade popular, a universidade para o povo através dos objetos. O que numa universidade normal é a linguagem das palavras e em última instância a linguagem dos sinais escritos, no caso do museu converte-se em linguagem dos objetos, do concreto”. (Varine, 1979).
Desta forma, os museus, ao menos na sua orientação mais progressista, se ligam à concepção freireana de educação para a libertação. Contudo, isto não é uma tarefa fácil, tanto pelas resistências internas como, principalmente, por um contexto externo cada vez mais hostil. Vivemos em uma sociedade onde crescem os discursos de ódio e se disseminam “fake news” como instrumentos de disputa social e política. Estes são a negação absoluta da perspectiva educadora e libertadora de Paulo Freire.
Frente a estes desafios, como podem os museus desenvolver sua função educativa libertadora, agindo como antídotos e organizadores de respostas contra estas ameaças à democracia? Para alcançar estes objetivos o simpósio trará investigadores de corte freireano no campo dos museus, com reflexões tanto teóricas, como com suas experiências práticas que podem, ao menos, apontar alguns caminhos.
LOPES, Régis. A DANAÇÃO DO OBJETO: o museu no ensino de história. Chapecó: Editora Argos, 2004.
SOTO, Moana Campos. Dos gabinetes de curiosidade aos museus comunitários: a construção de uma concepção museal à serviço da transformação social. Cadernos de Sociomuseologia, v.48, n. 4, p. 57-81, 2014.
TEIXEIRA, Maria das Graças de Souza. Desafios na preservação do patrimônio afrobrasileiro no MAFRO/UFBA. Cadernos de Sociomuseologia, Lisboa, v. 58, n. 14, p.19-38, 2019.
VARINE, Hugues de. Entrevista. In: ROJAS, Roberto; CRESPÁN, José L.; TRALLERO, Manuel (Org.). Os museus no mundo. Rio de Janeiro: Salvat Editora do Brasil, 1979. p. 8-21, 70-81.
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