Experiência, diálogo e alteridade como combate ao ódio: um encontro entre a pedagogia de Paulo Freire e a produção audiovisual de Eduardo Coutinho
Rodrigo Paziani  1@  
1 : Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Viver em pleno século XXI tem significado defrontar-se com um grande paradoxo. Pois, ao mesmo tempo em que estamos cada vez mais inseridos no processo de aceleradas transformações científico-tecnológicas e informacionais provocadas pelo capitalismo contemporâneo – e que tem propiciado mudanças substanciais nas formas de comunicação e sociabilidade entre as pessoas – este mesmo processo gerado a produção, circulação e proliferação diuturna de discursos de ódio a determinados sujeitos (mulheres, negros, homossexuais, refugiados) e de intensificação de desigualdades de todo gênero pela internet e redes sociais. A educação e a escola não encontram-se imunes a tal paradoxo: os ataques ostensivos ao conhecimento científico e a perseguição a educadores e educadoras pautados numa pedagogia autônoma e crítica (caso do movimento “Escola Sem Partido”) são dois bons exemplos, e sabemos, por outro lado, o quanto as tecnologias da informação e comunicação (e os discursos de ódio) têm penetrado no cotidiano de milhares de jovens em fases de escolarização.

Entendemos que seja importante enfrentar dito paradoxo num terreno que, não o recusando, possamos ultrapassá-lo propondo experiências e práticas educativas fundamentadas na busca partilhada e democrática de conhecimentos. Neste sentido, a proposta desta comunicação oral será a de estabelecer nexos éticos, estéticos, epistemológicos e políticos entre o importante legado pedagógico deixado por Paulo Freire e o legado cinematográfico produzido pelo documentarista Eduardo Coutinho (1933-2014), através de três dimensões constitutivas das obras de ambos: experiência, diálogo e alteridade.

As obras de Coutinho – as quais destacamos “Cabra Marcado Pra Morrer” (1984), “Santo Forte” (1999), “Edifício Master” (2002), “Peões” (2004) e “As Canções” (2011) – apresentam-se como um valioso acervo para refletirmos as possibilidades de articulação com a pedagogia freiriana. Ao definir a estética documental como a “arte do encontro” (marcado pela troca de experiências) e a tarefa do documentarista a de assumir a responsabilidade social e política com o momento vivido e com os sujeitos aos quais con/vive nestes distintos “momentos” filmados, Coutinho propunha pensar a relação dialógica entre ele e seus interlocutores – mediada pela câmera – como um modo particular e fundante de ambos se tornarem agentes de suas próprias histórias, memórias e saberes durante o processo de “fazer” o filme (ou, em Freire, durante o processo dialógico de construção do objeto do conhecimento entre educadores e educandos).

Nosso enfoque será o de pensar e propor criticamente algumas possibilidades concretas de uso reflexivo de produções audiovisuais em práticas educativas que, por sua vez, tornem-se ferramentas de combate aos discursos de ódio na internet e redes sociais, haja vista a forte influência que elas têm exercido no cotidiano de milhões de jovens e estudantes dentro e fora das escolas.



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