Compreender como a apropriação do elemento cultural por grupos culturais atinge as formas de atuação no espaço, (res)significando-o e tecendo relações é a questão principal de pesquisa de mestrado realizada no Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade Federal de Minas Gerais, com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), entre 2017 e 2019. A partir de entrevistas realizadas com lideranças culturais dos grupos Coco de Umbigada e Maracatu Nação Cambinda Estrela, localizados nas periferias das cidades de Olinda e Recife (PE), respectivamente, analisamos quais lutas são elencadas, quais sujeitos compõem seus territórios e quais estratégias adotadas para manter a dominância da cultura têm sido pensadas.
Verificamos que as lutas têm relação com as demandas locais, como moradia adequada, melhor qualidade de educação, mais oportunidades de trabalho para os jovens e medidas de redução da violência. Igualmente estão afeitas às necessidades trazidas pela própria manifestação cultural, como combate ao racismo, à intolerância religiosa, ao machismo, à LGBTQIfobia. Observamos a absorção de temáticas na luta contra as opressões serem incorporadas às atividades cotidianas, com destaque ao contexto de disputa eleitoral em 2018, momento em que os grupos posicionaram-se nas redes sociais e nas suas comunidades, defendendo os direitos conquistados e se opondo aos ataques de ódio.
Concluímos que as lutas por direitos em meio à vida urbana permeada por negações e exclusões, via cultura, acontecem em conjunto com a educação. É empobrecedor e inviável separar o subjetivo do objetivo nos territórios onde as relações são tecidas pela cultura. Segundo Freire (1987, p.24), “Não se pode pensar em objetividade sem subjetividade”. O educador enfatiza que transformar a realidade é tarefa dos homens, pois são esses quem a produzem em relações assimétricas. E apenas a partir da ação conjugada à reflexão tal tarefa seria factível. Ancorada na práxis seria possível se pensar a utopia, no sentido de visão social de mundo crítica, subversiva, que aponta para uma realidade não existente (LÖWY, 2003). Antes de criar estratégias para se adequar ao mundo imposto pela lógica da produção, para que nele se possa sobreviver, os grupos culturais demonstraram que é preciso o fortalecimento da visão de mundo elaborada internamente. A educação aparece como forma de resistência e de sobrevivência subjetivas que pode conduzir a uma maior autonomia do sujeito.
Referências:
FREIRE, Paulo (1970). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. 129p.
LÖWY, Michael. Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista. São Paulo: Cortez, 2003. 127p.
ORNELAS, Gabriela V.B. Territórios de cultura: potencialidades de luta e recuperação na análise do discurso de lideranças culturais de grupos pernambucanos, 2019. 163f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Geografia, 2019.