A vocação em ser mais: educação ambiental crítica e humanizadora em projeto de reabilitação florestal na região metropolitana de Salvador, Bahia, Brasil
Rosiléia Oliveira De Almeida  1, *@  , Fábio Pessoa Vieira  1, *@  , Daniel Pimentel Fernandes De Souza  1, *@  
1 : Universidade Federal da Bahia
* : Auteur correspondant

No contexto de um projeto de Reabilitação Florestal na região metropolitana de Salvador, Bahia, Brasil, desenvolvido pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento em parceria com a Universidade Federal da Bahia e outros órgãos, construímos uma proposta de Educação Ambiental junto a comunidades quilombolas e assentados de reforma agrária pautada pela compreensão das questões ambientais sob o primado das relações políticas, econômicas, sociais e culturais que afetam as dimensões individual e coletiva da vida em sociedade.

Diante do cenário de criminalização dos movimentos sociais com o respaldo da grande mídia, a proposta considera que a estrutura social vigente produz contextos de desigualdade e exclusão, opondo-se às situações de injustiça socioambiental que tornam comunidades rurais vulneráveis diante da demanda por água nos grandes centros urbanos.

As injustiças socioambientais são ações, intencionais ou não, que afetam de modo implacável populações vulneráveis (PACHECO, 2007), se manifestando, por exemplo, na demanda que se faz aos povos do campo para que produzam água para os grandes centros urbanos, quando eles próprios são privados de condições dignas de vida. Lançamos um olhar crítico sobre essa política pública, com a proposição da Educação Ambiental Crítica e do Pagamento por Serviços Ambientais como dispositivos compensatórios comprometidos com a sua soberania popular diante do modelo societário que gera a crise hídrica.

A proposta sustenta-se na pedagogia freireana (FREIRE, 1969) e no multiculturalismo de resistência de McLaren (2000), que se opõem à intensificação da desigualdade e à produção, manutenção e segregação das diferenças, induzidas pelo capitalismo, e se comprometem com a reconstrução das estruturas profundas da economia política, da cultura e do poder que impedem o ser humano de “ser mais”. Trata-se de uma pesquisa empírica, participante, dos processos de construção e monitoramento da execução dos projetos, avaliando a sua coerência com os princípios educativos da educação ambiental crítica e humanizadora.

O projeto propõe o mapeamento participativo (CHAMBERS, 2006) como estratégia educativa para o exercício da vocacão ontológica humana em “ser mais”, em que a busca pela humanização como possibilidade histórica torna-se um imperativo para romper com a opressão (FREIRE, 1969). Adota também a educomunicação (BRASIL, 2008), visando o acesso e a crítica às informações produzidas pelas mídias convencionais sobre o problema da escassez da água, buscando desocultar o viés econômico presente no discurso que sustenta que o modelo produtivo predatório é compatível com pautas ambientais (RUSCHEINSKY, 2010), bem como produzir conteúdos midiáticos que questionem os discursos de ódio contra os sem terra e assentados da reforma agrária, publicizando seus saberes-fazeres em defesa da legimidade de sua vocação em “ser mais”.

Referências

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Educomunicação socioambiental: comunicação popular e educação. Brasília, 2008. 

CHAMBERS, Robert. Participatory mapping and geographic information systems: whose map? Who is empowered and who disempowered? Who gains and who loses?. The Electronic Journal of Information Systems in Developing Countries, v. 25, n. 1, p. 1-11, 2006.

FREIRE, Paulo. O papel da educação na humanização. Paz e Terra, São Paulo, n. 9, p. 123-132, out. 1969.

MCLAREN, P. Multiculturalismo revolucionário: pedagogia do dissenso para o novo milênio. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

PACHECO, Tânia. Desigualdade, injustiça ambiental e racismo: uma luta que transcende a cor. 2007. Disponível em: https://racismoambiental.net.br/textos-e-artigos/desigualdade-injustica-ambiental-e-racismo-uma-luta-que-transcende-a-cor/. Acesso em: 31 dez. 2019. 

RUSCHEINSKY, Aloisio. Informação, meio ambiente e atores sociais: mediação dos conflitos socioambientais. Ciências Sociais Unisinos, v. 46, n. 3, p. 232-247, set./dez. 2010.



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