Discurso de ódio acerca do jovem: Reflexões sobre as ocupações estudantis brasileiras
Livian Netto, Julia Clasen  1, *@  , Aline Accorssi  1, *@  
1 : Grupo Mariposas - Faculdade de Educação - UFPel
* : Auteur correspondant

No ano de 2016, estudantes brasileiros mobilizaram-se para ocupar as escolas em todo Brasil como reação aos ataques que a educação pública vinha sofrendo. Durante e após o movimento, o ódio à juventude foi traduzido em uma violência simbólica e material. Foram inúmeros os casos de abuso policial, com ameaças de uso da força, o que gerou consequências políticas e emocionais na vida desses jovens. Os estudantes foram agredidos, presos, humilhados em uma proporção que não era esperada, ainda que não fossem desconhecidas tais ações por parte do Estado brasileiro, antecedidos pela repressão policial, também presente nas ocupações de São Paulo no ano de 2015. Os jovens também sentiram o impacto da divulgação de notícias sensacionalistas e distorcidas, sendo rapidamente enquadrados pela mídia como baderneiros, desocupados, vagabundos e alucinados. Mesmo com múltiplos ataques, os estudantes mantiveram-se unidos. O movimento ganhou força, ocupando os espaços públicos e mobilizando outras categorias sociais. Este período foi um momento de efervescência dos movimentos sociais e importante para refletirmos sobre a juventude e suas ações. Nossa intenção, portanto, pretende, de modo geral, refletir sobre o tempo presente, bem como a disputa pela narrativa da história, a partir de tal episódio. Assim, aqui buscamos refletir sobre as representações sociais (JOVCHELOVITCH, 2008) de internautas, tomando os seus comentários em uma reportagem de um jornal local na cidade de Pelotas localizada ao sul do Brasil, sobre a ocupação estudantil secundarista no Instituto Federal Sul-rio-grandense, uma das escolas públicas atacadas pelas políticas governamentais. Foram analisados 271 comentários realizados em uma matéria jornalística sobre a ocupação, publicada no dia 16 de outubro de 2016, na página do jornal no Facebook. Os dados foram submetidos a uma análise de conteúdo do tipo temática (MINAYO, 2010), o que gerou um mapa representacional. O tema de maior prevalência e que perpassa todos os demais, sendo caracterizador da representação social de juventude, está relacionado a desqualificação juvenil. Dele derivam outros dois grupos de pensamentos acerca do jovem: o primeiro refere-se à imaturidade, incapacidade e improdutividade, já o segundo à fácil manipulação frente aos modismos e suposta doutrinação da esquerda. A luta dos estudantes não é reconhecida e, para além disso, é passível de controle e punição, na medida em que este adota uma postura de desvio da ordem e da atuação que lhe é esperada. Em contraponto, o movimento de ocupação demonstrou a potencialidade presente na juventude de enfrentamento à representação social que lhe perpassa, dando novos contornos ao processo de disputa de discursos acerca das ações assumidas pelo sujeito jovem (FREIRE, 1987; 2005), e dos espaços que são resguardados à esta categoria política. Os estudantes assumiram seu papel de forma ativa no processo de transformação social, resistindo de forma organizada e apresentando à sociedade avanços na construção do espaço escolar.



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