O Amor e a amorosidade como prática de uma educação libertária: aproximações entre bell hooks e Paulo Freire
Diônvera Coelho Da Silva  1, *@  , Aline Accorssi  1, *@  , Álvaro Veiga Júnior  1, *@  
1 : Grupo Mariposas - Faculdade de Educação - UFPel
* : Autor correspondiente

A feminista negra, escritora e professora norte-americana bell hooks, em sua obra, menciona Paulo Freire como um mentor e até mesmo como um guia. Freire, por sua vez, foi um importante pensador, ativista social brasileiro, referência na área da educação em vários países. Mas, afinal, o que tais autores têm em comum? Partilham de uma mesma base epistemológica/ontológica? Apontam em direções similares na educação e na pesquisa? Nosso objetivo, com o presente trabalho, é aproximar tais autores e, em especial, suas contribuições no que se refere ao conceito de amor/amorosidade como elemento central de uma práxis libertária. Caracteriza-se, portanto, como um trabalho de cunho ensaístico em que, a partir da leitura atenta de várias obras, se traça um paralelo entre os dois autores. Em uma primeira abordagem, podemos destacar que hooks embasou seu pensar na perspectiva freiriana para pensar a coletividade, a educação e a possibilidade de igualdade social. Seu trabalho foi mais amplo no que se refere a compreensão sobre relações raciais, de gênero e de classe de forma interseccionada. Para hooks (2013) a sala de aula feminista é um espaço potente para formação de pessoas, visto que a crítica às práticas pedagógicas são aceitas e consideradas importantes para a prática da liberdade. Logo, “escolher políticas feministas é, portanto, escolher amar” (hooks, 2019,p.150). O amor, em hooks, é categoria central para pensar a luta contra a dominação, pois, em suas palavras, “o amor jamais poderá se enraizar em uma relação fundamentada em dominação e coerção” (hooks, 2019, p. 149). A educação para as pessoas negras, por exemplo, é considerada um ato político, contra-hegemônico e revolucionário, fundamental para a descolonização de práticas racistas (hooks, 2013). Contudo, o que ocorreu na experiência afroamericana de integração racial nas escolas foi o oposto. Houve o fortalecimento de práticas racistas e autoritárias e assim, se perdeu espaço para contestação, dúvida e prazer (hooks, 2013). Com isso, hooks (2013, p. 12) “aprendeu a diferença entre a educação como prática da liberdade e a educação que só trabalha para reforçar a dominação”. Portanto, sem o amor, a luta pela eliminação da opressão e exploração não será alcançada, pois não somos capazes de criar um coletivo distante de práticas de dominação (hooks, 2006). O amor, nessa perspectiva, é uma prática de liberdade, visto que nos impulsiona para uma visão política radical que se contrapõem aos sistemas de dominação (hooks, 2013). Uma educação libertária e transgressora necessita de uma ética do amor, do contrário, corre-se o risco de se desenvolver um conhecimento aprisionado em práticas colonizadoras. A educação sem amor é uma forma de abuso de poder, característica da “educação bancária” (hooks,2013) tão bem descrita por Freire em suas obras. Aliás, Freire (1996) também destaca o amor/amorosidade na prática educativa. Para ele, somente o diálogo aberto e crítico é capaz de promover uma educação em liberdade e uma convivência amorosa, onde os educandos podem, junto ao educador, construir o saber a partir de vínculos afetivos fortalecidos por uma solidariedade profunda. A amorosidade se materializa em atos conscientes pela liberdade, em um agir comunicativo dialógico, fundamental para a formação humana e preservação do mundo. É fato que Freire poderia ter avançado sobre as questões de gênero e enfrentado seus pontos cegos de forma mais ativa. Entretanto, como aponta hooks (2013), isso não diminui o valor de sua obra, e “essas contradições são abraçadas como parte do processo de aprendizado, parte daquilo que a pessoa luta para mudar – e essa luta, muitas vezes leva tempo” (hooks, 2013, p.80). Para finalizar, destacamos que para ambos autores, o amor/a amorosidade são categorias centrais para estabelecer uma práxis educativa libertária. E, mais, são compreendidas como qualidades ontológicas do humano que embasam perspectivas epistemológicas direcionadas no reconhecimento do saber e da experiência dos grupos oprimidos.


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