Um espectro de ignorância ronda o Brasil: aproximações entre o discurso de ódio online contra Paulo Freire e os Estudos de Gênero nas eleições 2018
Erlando Erlando Da Silva Rêses  1@  , Paula Paula Vielmo  2@  
1 : Universidade de Brasilia [Brasília]
2 : Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), Campus Barreiras

Este artigo analisa os discursos de ódio on-line intensificados em Paulo Freire e em Estudos de gênero durante as eleições de 2018, principalmente por meio de Fake News, em que programa de governo Jair Bolsonaro criou “expurgar a ideologia de Paulo Freire” (BOLSONARO, 2018, p. 46), Responsabilizando-se por renomado educador pelo baixo desempenho, indisciplina e violência escolar. O ódio em Paulo Freire alinha-se ao ódio às ameaças de mulheres feministas, negras, indígenas, LGBT, estabelecimento de meio de informação um novo contexto com ações mais violentas contra esse público e contra o legado de Freire, vez que o aparente virtual algo ilusório, mas tem assento na realidade (LÉVY, 1993). Uma virtualização representa mudanças das técnicas, da economia e dos trajes de modo tão rápido e desestabilizante como nunca visto na história da humanidade (LÉVY, 1996). O advento da internetcomo espaço amplo de propagação de idéias no início do setor XXI, chegou como novidade e popularização do conhecimento, sendo também usado como meio de organização de mobilizações pelo mundo afora, como Primavera Árabe e Marcha das Vadias. Nesse contexto, pautas que tratam de grupos socialmente marginalizados como mulheres e outros alinhados na diversidade sexual difundiram-se com rapidez por meio de várias páginas, iniciadas no Facebook e, posteriormente, no Instagram . No entanto, com rapidez idêntica, esse instrumento começou a ser usado para espalhar discursos de ódio onlinecontra esses mesmos grupos que ganham voz por meio da virtualidade, assumindo uma informação de papel despótico (SANTOS, 2002). Nessa última década no Brasil, ocorrem diversas situações em que os discursos de ódio estão on-linese destacado, porém neste trabalho analisar o caso das eleições de 2018 e os ataques desferidos ao pensamento de Paulo Freire e Estudos de Gênero, refletindo sobre as aproximações entre esses dois campos, materializados nas Pedagogias Feministas (hookOUR, 2017; SARDENBERG, 2005; WEILER, 2003), de inspiração freireana, que aborda como relações de gênero. Entendemos o gênero como um “elemento constitutivo das relações sociais, nas diferenças percebidas entre os sexos e uma forma primária do significado das relações de poder” (SCOTT, 1995, p.86). Para alcançar este objetivo, desenvolver uma pesquisa bibliográfica e documental, seguida de análise e discussão filosófica e teórica a partir do pensamento de Paulo Freire, enfocando como obras Educação como Prática da Liberdade, Pedagogia do Direito e Educação e Mudança e crítica feminista à ciência (FOX KELLER, 2006; HARAWAY, 1995). Em seguida, relacione com o Pânico social de ideologia de gênero, com foco no Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2014) e o Movimento / Projetos de Lei “Escola Sem Partido” (MIGUEL, 2016), como ações que comprometem uma pedagogia Crítica.

REFERÊNCIAS

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PADILHA, Paulo Roberto Padilha; ABREU, Janaina (org.). Paulo Freire em tempos de fake news: artigos e projetos de intervenção produzidos durante o curso da EaD Freiriana do Instituto Paulo Freire [e-book]. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2019.

FOX KELLER, Evelyn. Qual foi o impacto do feminismo na ciência? Cadernos Pagu (27), julho-dezembro de 2006: pp.13-34.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

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LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1993.

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MIGUEL, Luis Felipe. Da “doutrinação marxista” à "ideologia de gênero" - Escola Sem Partido e as leis da mordaça no parlamento brasileiro / From “Marxist indoctrination” to “gender ideology”: Escola Sem Partido (non-partisan school) and gag laws in Brazilian congress. Revista Direito e Práxis, [S.l.], v. 7, n. 3, p. 590-621, set. 2016. ISSN 2179-8966. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaceaju/article/view/25163/18213>

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ROMÃO, Natatcha Priscilla. Pedagogia da oprimida: a contribuição feminina para o pensamento pedagógico brasileiro. Tese em Educação. São Paulo, Universidade Nove de Julho, 2019.

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SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. In: Educação e Realidade. Porto Alegre, jul./dez. 1995, p. 71-99.

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