“EU ME SENTIA MÃE E ESCRAVA. MAS MULHER NÃO”: um estudo de caso sobre gênero, opressão e migrações na contemporaneidade
Ione Ribeiro Valle  1, *@  , Gabriela Albanás Couto  1, *@  , Mariana Paulino Machado  1, *@  
1 : Universidade Federal de Santa Catarina [Florianópolis]
* : Auteur correspondant

A temática da opressão atravessa a produção freiriana, sendo que, ao longo do tempo, Freire amadurece o conceito, adequando-o às pautas sociais que foram emergindo. Passa então a defender a ideia de que, embora os mecanismos de opressão atinjam a todos, faz-se necessário o reconhecimento de grupos que são, certamente, mais oprimidos que outros, como as mulheres, os negros, a população LGBTQI+ e os migrantes (FREIRE, 2016). Dar visibilidade às mulheres migrantes, desvelando questões de opressão, racismo, xenofobia e discursos de ódio que, infelizmente, estão na ordem do dia e compreender o fenômeno migratório como alternativa de emancipação daquelas que, no ato de migrar, almejam fugir de relações abusivas na tentativa de, de fato, se sentirem mulheres são objetivos deste trabalho. Para tanto, optou-se por trabalhar com a entrevista de uma mulher negra, nascida na República Dominicana, residente no Brasil há cinco anos, obtida durante uma pesquisa em andamento. Segundo Marinucci (2007), a presença da mulher no contexto migratório tendia anteriormente a ocupar um lugar passivo e de pouca visibilidade, pois partia-se do pressuposto de que o ato de migrar estava associado apenas aos homens, ficando a participação das mulheres reduzida aos papéis de acompanhantes e esposas. A discussão da feminização deste fenômeno, todavia, é crescente e vai além do aspecto quantitativo: ela nos atenta para maior visibilidade da migração de mulheres, bem como as configurações e reconfigurações dos seus papéis nos fluxos migratórios. São histórias de vida que, a despeito dos discursos de ódio de que muitas vezes são vítimas em decorrência de suas escolhas, etnicidade e cor de pele, revelam o entrelaçamento perverso entre questões de gênero e a opressão, tratada aqui no sentido dado por Paulo Freire (2016; 2005). O papel da educação nas possibilidades de integração social dessas mulheres e na superação das precárias condições laborais que encontram em território brasileiro é considerado, assim, como as permanências da condição de oprimida, apesar de todas as apostas, investimentos e sacrifícios implicados no processo de migração, o que desvela a dura contradição entre as esperanças subjetivas e as oportunidades objetivas (BOURDIEU, 2007).

Referências:

BOURDIEU, P. Meditações Pascalianas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

FREIRE. P. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.

FREIRE. P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

MARINUCCI, R. Feminização das migrações? REMHU v. 15, n. 29, 2007.


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