Epistemologias descoloniais como práticas de liberdade
Livian Netto, Coelho Da Silva Diônvera * , Aline Accorssi  1, *@  
1 : Universidade Federal de Pelotas = Federal University of Pelotas
* : Auteur correspondant

Este ensaio teórico tem por objetivo refletir sobre práticas libertadoras a partir de uma epistemologia descolonial e, portanto, libertária. Paulo Freire, em Pedagogia do Oprimido (1987), ressalta o diálogo como essência de uma educação libertadora, que só poderá ocorrer se o sujeito puder se autoconfigurar responsavelmente. Para isso, o oprimido precisa ter condições de reflexivamente descobrir-se e conquistar-se como sujeito de sua própria história. Porém, estamos em um mundo configurado em uma cultura dominante. Isso significa dizer que a história está sendo narrada a partir da perspectiva de quem colonizou o mundo, e, nesse mundo colonizado, nem todos podem falar. Histórias são apagadas e silenciam-se vozes. No mundo colonizado, em que existem estereótipos racistas e sexistas (hooks, 2017) e em que a cultura é tecida como uma trama de dominação (FREIRE,1987), ensinam-se pessoas, mulheres e especialmente mulheres negras a serem subordinadas. bell hooks (2019) aprende desde muito cedo que é necessário aprender a dizer sua palavra e para isso foi preciso erguer a voz. Nesta configuração de sociedade, aprender a ler e a pronunciar o mundo, é transformá-lo, já que ao pronunciá-lo, ele volta problematizado, exigindo outra pronúncia. É nesse movimento que as epistemologias descoloniais são possibilidades de pensar práticas libertadoras já que elas pronunciam o mundo tentando romper com a crença de superioridade e inferioridade que afetam a vida de todas as pessoas em todos os lugares (hooks, 2019). O projeto descolonial busca desaprender para reaprender, já que a colonização configurou a linguagem, bem como a maneira de aprender e de dizer o mundo. Reaprender o mundo a partir de uma perspectiva descolonial, é exercitar a dialogicidade. Lugones (2014) propõe um feminismo descolonial a partir de uma emancipação feminista das mulheres, que ao reconhecer a diferença colonial, resistem a colonialidade de gênero e a dominação. Para a autora, é preciso que se crie uma nova demanda e outro horizonte que seja feminista e que considere as características, necessidades e fontes de resistência que rompam com a modernidade branca, eurocêntrica, universalista e racista para um eixo comunal que não seja hierárquico, mas que seja mestiço e transidentitário. Nesse sentido, hooks (2019) diz que é necessário um movimento feminista libertador que pretende transformar verdadeiramente a sociedade, erradicando o patriarcado e a opressão sexista. Para isso, precisa-se de uma pedagogia feminista revolucionária para desatar as amarras que nos prendem as formas tradicionais de ensino que reforçam a dominação. Pensando nessas relações, este trabalho pretende aproximar as epistemologias descoloniais como possibilidades de práticas de educação libertadora.

 



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